Trajetória de resiliência de contadoras atuantes em conselhos de empresas de capital aberto no Brasil

Autores

  • Adelia Marina de Campos Cursino Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Centro Universitário de Sete Lagoas
  • Samuel de Oliveira Durso Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

DOI:

https://doi.org/10.17524/repec.v19.e3780

Palavras-chave:

Diversidade de Gênero, Conselhos, Profissão Contábil, Carreira

Resumo

Objetivo: Analisar a trajetória das mulheres contadoras que integram os conselhos de empresas listadas na bolsa de valores brasileira, sob a ótica da teoria da resiliência.

Método: Foram realizadas 13 entrevistas semiestruturadas com contadoras atuantes em boards. A trajetória de resiliência foi analisada a partir de três contextos: profissional, organizacional e individual, para os quais foram identificadas as fontes de adversidade e os mecanismos de enfrentamento.  

Resultados: No âmbito profissional, a baixa representatividade feminina em cargos de liderança constituiu uma das principais fontes de estresse e adversidade. Em contrapartida, a formação em contabilidade revelou-se um instrumento de enfrentamento para a atuação nos boards. No contexto organizacional, as situações de assédio e preconceito de gênero apareceram como fontes de estresse e adversidade e a construção de networking para o alcance de posições de liderança como mecanismo de enfrentamento. Finalmente, no contexto individual, a autocobrança para equilibrar os diferentes papéis foi identificada como uma importante fonte de estresse e adversidade, enquanto o apoio familiar e um perfil motivado por desafios foram os principais fatores de enfrentamento.

Contribuições: Os achados da pesquisa permitem uma melhor compreensão da trajetória das contadoras que chegam ao topo da carreira executiva, auxiliando em políticas para a promoção da equidade de gênero.

Traduções deste artigo

Biografia do Autor

Adelia Marina de Campos Cursino, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Centro Universitário de Sete Lagoas

Doutora e Mestre em Administração pela PUC Minas. Doutora em Controladoria e Contabilidade pela UFMG. Bacharela em Administração pela Universidade Federal de São João Del-Rei e em Ciências Contábeis pelo Centro Universitário Sete Lagoas.

Samuel de Oliveira Durso, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mestre em Ciências Contábeis pela UFMG, doutor em Controladoria e Contabilidade pela Universidade de São Paulo (USP) e doutor em Educação pela UFMG. 

Referências

Adapa, S., Rindfleish, J., & Sheridan, A. (2016). “Doing gender” in a regional context: Explaining women’s absence from senior roles in regional accounting firms in Australia. Critical Perspectives on Accounting, 35, 100–110. https://doi.org/10.1016/j.cpa.2015.05.004

American Psychological Association - APA. (2018). APA Dictionary of Psychology: Resilience. https://dictionary.apa.org/resilience

Angst, R. (2009). Psicologia e Resiliência: Uma revisão de literatura. Psicologia Argumento, 27(58), 253– 260. Disponível em https://periodicos.pucpr.br/psicologiaargumento/article/view/20225

Atena, F. W., & Tiron-Tudor, A. (2020). Gender as a dimension of inequality in accounting organizations and developmental HR strategies. Administrative Sciences, 10(1). https://doi.org/10.3390/admsci10010001

Barreira, D. D., & Nakamura, A. P. (2006). Resiliência e a auto-eficácia percebida: articulação entre conceitos. Aletheia, (23), 75-80. Disponível em https://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-03942006000200008

Bebbington, J., Thomson, F., & Wall, D. (1997). Accounting Students And Constructed Gender: An Exploration Of Gender In The Context Of Accounting Degree Choices At Two Scottish Universities. Accounting, Organizations and Society, 15(2), 241-267. https://doi.org/10.1016/S0748-5751(97)00004-3

Belle, F. (1996). Executivas: Quais as diferenças na diferença? In O indivíduo na organização: Dimensões esquecidas: Vol. II (pp. 195–231). Atlas.

Bernardi, R. A. (1998). The implications of lifestyle reference on a public accounting career: an exploratory study. Critical Perspectives on Accounting, 9(3), 335–351. https://doi.org/10.1006/cpac.1997.0190

Bridges, D., Wulff, E., & Bamberry, L. (2023). Resilience for gender inclusion: Developing a model for women in male‐dominated occupations. Gender, Work & Organization, 30(1), 263–279. https://doi.org/10.1111/gwao.12672

Britt, T. W., Shen, W., Sinclair, R. R., Grossman, M. R., & Klieger, D. M. (2016). How much do we really know about employee resilience? Industrial and Organizational Psychology, 9(2), 378–404. https://doi.org/10.1017/iop.2015.107

Cohen, J. R., Dalton, D. W., Holder-Webb, L. L., & McMillan, J. J. (2020). An Analysis of Glass Ceiling Perceptions in the Accounting Profession. Journal of Business Ethics, 164(1), 17–38. https://doi.org/10.1007/s10551-018-4054-4

Cordeiro, F. A., Pereira, F. R., Durso, S. de O., & Cunha, J. V. A. da. (2018). Complexidade organizacional e liderança feminina nas empresas de auditoria externa. Revista Contemporânea de Contabilidade, 15(36), 31–48. https://doi.org/10.5007/2175-8069.2018v15n36p31

Coutu, D. (2002). How Resilience Works. Harvard Business Review, 80(5), 46–56. Disponível em https://hbr.org/2002/05/how-resilience-works

Cruz, N. G. da, Lima, G. H. de, Durso, S. de O., & Cunha, J. V. A. da. (2018). Desigualdade de Gênero em Empresas de Auditoria Externa. Contabilidade Gestão e Governança, 21(1), 142–159. Disponível em https://revistacgg.org/index.php/contabil/article/view/1462

Comissão de Valores Mobiliários (CVM). (2023). Formulários de referência de Cias Abertas. Disponível em https://dados.cvm.gov.br/dataset/cia_aberta-doc-fre/resource/9e411bba-28d2-4be5- 9526-a97320d9ef40

De France, K., Evans, G. W., Brody, G. H., & Doan, S. N. (2022). Cost of resilience: Childhood poverty, mental health, and chronic physiological stress. Psychoneuroendocrinology,144,1-7. https://doi.org/10.1016/j.psyneuen.2022.105872

Denckla, C. A., Cicchetti, D., Kubzansky, L. D., Seedat, S., Teicher, M. H., Williams, D. R., & Koenen, K. C. (2020). Psychological resilience: an update on definitions, a critical appraisal, and research recommendations. European Journal of Psychotraumatology, 11(1), 1822064. https://doi.org/10.1080/20008198.2020.1822064

Diniz Nascimento, S. (2016). Precarização do trabalho feminino: a realidade das mulheres no mundo do trabalho. Revista de Políticas Públicas, 339–346. Disponível em https://www.redalyc.org/journal/3211/321153853034/html/

Duchek, S., Foerster, C., & Scheuch, I. (2022). Bouncing up: The development of women leaders’ resilience. Scandinavian Journal of Management, 38(4). https://doi.org/10.1016/j.scaman.2022.101234

Eccel, C. S., & Grisci, C. L. I. (2011). Trabalho e Gênero: a produção de masculinidades na perspectiva de homens e mulheres. Cadernos Ebape, 9(1), 72–78. https://doi.org/10.1590/S1679-39512011000100005

Fajardo, I. N., Minayo, M. C. de S., & Moreira, C. O. F. (2010). Educação escolar e resiliência: política de educação e a prática docente em meios adversos. Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação, 18(69), 761–773. https://doi.org/10.1590/S0104-40362010000400006

Flach, F. (1991). Resiliência: a arte de ser flexível. Saraiva.

Fletcher, D., & Sarkar, M. (2012). A grounded theory of psychological resilience in Olympic champions. Psychology of Sport and Exercise, 13(5), 669–678. https://doi.org/10.1016/j.psychsport.2012.04.007

Fletcher, D., & Sarkar, M. (2016). Mental fortitude training: An evidence-based approach to developing psychological resilience for sustained success. Journal of Sport Psychology in Action, 7(3), 135–157. https://doi.org/10.1080/21520704.2016.1255496

Ghio, A., & Moulang, C. (2025). Women accountants and wellbeing. Accounting Horizons, 39(3), 55-65. https://doi.org/10.2308/HORIZONS-2023-118

Groeneveld, S., Bakker, V., & Schmidt, E. (2020). Breaking the glass ceiling, but facing a glass cliff? The role of organizational decline in women’s representation in leadership positions in Dutch civil service organizations. Public Administration, 98(2), 441–464. https://doi.org/10.1111/padm.12632

IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa. (2023). Análise da participação das mulheres em conselhos e diretorias das empresas de capital aberto (3a edição-2023) (3 ed). IBGC. Disponível em https://conhecimento.ibgc.org.br/Paginas/Publicacao.aspx?PubId=24627

INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. (2023). Senso da Educação Superior. Disponível em https://www.gov.br/inep/pt-br/areas-de-atuacao/pesquisas-estatisticas-e-indicadores/censo-da-educacao-superior/resultados

Jogulu, U., & Franken, E. (2023). The career resilience of senior women managers: A cross-cultural perspective. Gender, Work and Organization, 30(1), 280–300. https://doi.org/10.1111/gwao.12829

Loureiro, C. M. P., Da Costa, I. de S. A., & Freitas, J. A. de S. B. e. (2012). Trajetórias profissionais de mulheres executivas: qual o preço do sucesso? Revista de Ciências da Administração, 14(33), 130–144. https://doi.org/10.5007/2175-8077.2012v14n33p130

Lupu, I. (2012). Approved routes and alternative paths: The construction of women’s careers in large accounting firms. Evidence from the French Big Four. Critical Perspectives on Accounting, 23(4– 5), 351–369. https://doi.org/10.1016/j.cpa.2012.01.003

Masten, A. S. (2015). Ordinary Magic: Resilience in Development. The Guilford Press.

Morales, E. E. (2008). Academic Resilience in Retrospect. Journal of Hispanic Higher Education, 7(3), 228–248. https://doi.org/10.1177/1538192708317119

Moskovitz, S. (1985). Longitudinal follow-up of child survivors of the Holocaust. Journal of the American Academy of Child & Adolescent Psychiatry, 24(4), 401-407. https://doi.org/10.1016/S0002-7138(09)60557-4

Mota-Santos, C. M., Tanure, B., & Carvalho Neto, A. M. (2014). Mulheres executivas brasileiras: O teto de vidro em questão. Revista Administração em Diálogo, 16(3), 56–75. Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=534654456004

Naguib, R., & Madeeha, M. (2023). “Making visible the invisible”: Exploring the role of gender biases on the glass ceiling in Qatar’s public sector. Women’s Studies International Forum, 98, 102723. https://doi.org/10.1016/j.wsif.2023.102723

Oliveira Silva, A. A., Souza, J. M. de, Marciano de Freitas Neto, R., & De Oliveira Quirino, M. C. (2022). Estereótipos de gênero na contabilidade: uma análise sob a percepção de estudantes e profissionais contabilistas. Revista Mineira de Contabilidade, 23(3), 24–36. https://doi.org/10.51320/rmc.v23i3.1392

Pacheco, A., Carolyne, S., Barros, R., Luísa, M., Nogueira, M., & Andrade De Barros, V. (2007). “Conte-me sua história”: reflexões sobre o método de História de Vida. Mosaico: Estudos em Psicologia, 1(1). Disponível em https://periodicos.ufmg.br/index.php/mosaico/article/view/6224

Paludo, S. dos S., & Koller, S. H. (2005). Resiliência na rua: um estudo de caso. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 21(2), 187–195. https://doi.org/10.1590/S0102-37722005000200009

Poletto, M., & Koller, S. H. (2008). Contextos ecológicos: promotores de resiliência, fatores de risco e de proteção. Estudos de Psicologia, 25(3), 405–416. https://doi.org/10.1590/S0103-166X2008000300009

Sacker, A., & Schoon, I. (2007). Educational resilience in later life: Resources and assets in adolescence and return to education after leaving school at age 16. Social Science Research, 36(3), 873–896. https://doi.org/10.1016/j.ssresearch.2006.06.002

Sian, S. (2023). Off-ramps and on-ramps: Career continuity and discontinuity in professional accountancy. Critical Perspectives on Accounting, 91, 102410. https://doi.org/10.1016/j.cpa.2021.102410

Tonelli, M. J., & Carvalho, A. (2023). Dilemas e avanços das mulheres na gestão. GV Executivo, 22(1), 28–33. https://doi.org/10.12660/gvexec.v22n1.2023.89124

Vieira, A. de A., & Oliveira, C. T. F. de. (2017). Resiliência no trabalho: uma análise comparativa entre as teorias funcionalista e crítica. Cadernos EBAPE.BR, 15(spe), 409–427. https://doi.org/10.1590/1679-395159496

Werner, E. E., & Smith, R. S. (1982). Vulnerable but invincible: A study of resilient children. New York: McGraw-Hill.

Weyer, B. (2007). Twenty years later: Explaining the persistence of the glass ceiling for women leaders. Women in Management Review, 22(6), 482–496. https://doi.org/10.1108/09649420710778718

Yunes, M. (2003). Psicologia positiva e resiliência: o foco no indivíduo e na família. Psicologia em Estudo, 8(spe). https://doi.org/10.1590/S1413-73722003000300010

Yunes, M. A. M., & Szymanski, H. (2001). Resiliência: Noção, conceitos afins e considerações críticas. In J. Tavares (Ed.), Resiliência e educação (pp. 13–42). Cortez.

Downloads

Publicado

18-12-2025

Como Citar

de Campos Cursino, A. M., & Durso, S. de O. (2025). Trajetória de resiliência de contadoras atuantes em conselhos de empresas de capital aberto no Brasil. Revista De Educação E Pesquisa Em Contabilidade (REPeC), 19. https://doi.org/10.17524/repec.v19.e3780